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METEORANGO KID, HÉROI INTERGALÁTICO (1969) O mais cruel dos dias (título de trabalho)
Créditos
Longa-metragem, Sonoro, Ficção
Material original: 35mm, b&p, 85', 2.303m, Agfa Gevaert/Orwo, 24q

Origem: Salvador (BA)
Produção:1969
Estréia: Brasília-DF (V Festival de Brasília)
Locações: Salvador


Distribuição: R.P.I.

Direção: André Luiz Oliveira
Assistente de direção: Walter Lima
Continuidade: Carmem Célia

Companhia(s) produtora(s): A.L.O. Produções Cinematográficas
Produtor(a) associado(a): Milton Borba de Oliveira
Direção de produção: Marcio Curi
Assistência de produção: Barbixa, Caverinha, Gatto Félix

Argumento: André Luiz Oliveira
Roteiro: André Luiz Oliveira

Direção de fotografia : Vito Diniz
Assistente de fotografia : Dó Costa
Elétrica: Adilson Santos
Fotografia de cena: Mário Cravo Neto

Técnico(a) de som: Celso Muniz

Cenografia : José Wagner, Edson Grande

Montagem : Marcio Curi

Música original : Moraes Moreira, Galvão

Elenco: Antonio Luiz Martins (Lula)
Sonia Dias
José Wagner
Carlos Bastos
João Dsordi
Milton Gaúcho
Nilda Spencer
Manuel Costa Jr.
Alberto Viana
Aldil Linhares
Paulo Fonseca
José Jorge
Ilma Ridz
Tânia Mota
Alone
Laisinha
Tania
Perna
Júlio
Kabar
Carmen Célia
Gato Félix
José Walter
Ney
Djalma
Edson Grande
Barbicha
Domingos
Rosa
Ana Lucia
Ramiro Barnabó
Ramirão
Pepeu
America
Consuelo
Roberto B. B.
Adelina
Mazola
Deusdete
Caveirinha
Alunos da Escola de Teatro da Bahia.


Fontes: Transcrição de letreiros (“Meteorango Kid”, DVD da Programadora Brasil nº 15); Setaro (1976); André Luiz Oliveira.




Imagens
OBSERVAÇÃO

Observações: Walter Lima creditado como “José Walter”. Carlos “Kabá” Gaudenzi creditado como “Kabar”. O pintor Carybé creditado com seu nome civil, Ramiro Barnabó.

Só foi possível fazer a estréia comercial em 1970, pois a censura perdeu o filme.


SINOPSE

Sinopse: O filme narra, de maneira anárquica e irreverente, as aventuras de Lula, um estudante universitário, no dia do seu aniversário. De forma absolutamente despojada, mostra, sem rodeios, o perfil de um jovem desesperado, representante de uma geração oprimida pela ditadura militar e pela moral retrógrada de uma sociedade passiva e hipócrita. O anti-herói intergaláctico atravessa este labirinto cotidiano através das suas fantasias e delírios libertários, deixando atrás de si um rastro de inconformismo e um convite à rebelião em todos os níveis (Programadora Brasil).
IMPRENSA

Imprensa: Walter da Silveira: Tribuna da Bahia (29/11/1969)

Brasília, 1969, um festival sempre jovem (III)

Depois de Macunaíma e de Memória de Helena, Meteorango Kid, herói intergálatico, foi o melhor filme do V Festival de Brasília.

Por que, depois, se Memória de Helena só foi premiado pelo júri oficial, embora com o Candango mais importante (acompanhado inclusive de vinte mil cruzeiros), e se Macunaíma teve muitos prêmios secundários, mas não teve dos jurados o prêmio principal? Meteorango Kid, herói intergálatico foi aclamado pelo público o melhor, ganhou o prêmio especial do júri e ainda recebeu a Margarida de Prata do Ofício Católico Internacional do Cinema, porém não se equivaleu como obra de arte àqueles filmes.

Não sou tão levianamente baiano para dizer que a fita de André Luiz Oliveira ganhou o V Festival, nem tentei impô-la em Brasília para uma vitória consagradora, nos dois júris de que participei, o ofícial e o do OCIC. Porque estaria contra o meu juízo crítico horná-la mais do que aos filmes de David E. Neves e Joaquim Pedro de Andrade, que me pareceram mais definitivos, mais realizados. Posso, assim, declarar insuspeitamente que num e noutro júri testemunhei a defesa de Meteorango Kid por inteligências e experiências no território cinematográfico acima de qualquer dúvida. Nenhuma voz o indicou, na premiação oficial como o melhor filme divididos os votos (6 a 5) entre Memória de Helena e Macunaíma. Todos, entretanto, com uma abstenção (e não com uma negativa), o propuseram para prêmio especial, aquele que, por tradição, se reserva, nos festivais, para a obra que mereça um destaque, abaixo do Grande Prêmio.

Dentro da comissão do OCIC as manifestações em seu favor ainda foram mais eloqüentes: durante duas horas, noite avançada, todos quiseram justificar porque a Margarida de Prata deveria ser conferida ao filme do jovem baiano. E as razões desse segundo, obedeciam a um critério diferente: não se limitavam aos valores estéticos, além deles vinham os éticos, não de uma ética fechada, em desvantagem com a vida contemporânea sem a compreensão dos impulsos jovens que, com inocência e grandeza, contestam o descaminho desumano que, herança maldita, lhes transmitiram globalmente as gerações passadas.

Resta saber se o autor de Meteorango Kid percebeu o significado e a importância do que lhe deu o Festival de Brasília, se ele sabe mesmo, no interior pleno de sua consciência humana e artística, a importância e o significado de seu filme. Pela entrevista que fez distribuir antes da exibição, André Luiz Oliveira pretende inserir-se entre aqueles que negam os festivais e mais ainda seus prêmios, porém neles inscrevem as suas obras e comemoram os triunfos, entre aqueles que recusam os elogios da crítica – “essa ligação que os jovens fazem com o meu filme vale muito mais que qualquer elogio de críticos estabelecidos ou prêmios em festivais” - mas lêem avidamente as colunas críticas que lhe são favoráveis. Ademais, por essa entrevista ingenuamente conflitiva, o novo cineasta que “acha ótimo as pessoas detestarem o filme” e situa Deus e Diabo na Terra do Sol como “significado para uma geração já passada”, não teria aquela humildade autocrítica de reconhecer identificações, inspirações e influências no seu método de recriar ou contestar a realidade, no seu estilo de ver e filmar, como se o cinema sempre começasse apenas com os que vão surgindo.

Não se julga, entretanto, uma obra de arte pela intenção ou pelos depoimentos do autor, ainda que possam informar sobre sua personalidade nas zonas íntimas mais escondidas. Julga-se pelo resultado, pelo que vale em si mesma. E Meteorango Kid, com suas várias imperfeições de técnica e de estética, com seqüências inúteis ou mal acabadas, mais longo do que deveria e poderia ser como estória e continuidade, aproximando-se visivelmente às vezes das tendências formais de Pasollini, Bellocchio, Godard e Resnais, é um filme extremamente a se considerar pelo que representa como explosão de talento selvagem, como instinto para a criação cinematográfica, como manifestação de um testemunho crítico sobre o existir atual.

Nenhum outro filme em Brasília mereceria realmente o amor dos jovens como este. Não porque seu autor tenha 21 anos e tente compor-se fisicamente com a imagem de um hippie. Mas porque Meteorango Kid exprime, em insólito e em audacioso, por instantes em inseguro, os arrebatamentos da juventude. De uma sinceridade absoluta, podendo-se admitir que nele haja muito de confessional, espécie de autobiografia interior, atreve-se a uma série de denúncias que, por sua firme lucidez, não se diriam conscientizadas pelo autor tão abstraído do real na sua vida aparente, mas que ligadas umas às outras, o definem e marcam como um retratista fiel das angústias juvenis, das suas causas e conseqüências.

Lula, o herói de Meteorango Kid, seu anti-herói para quem o veja com preconceitos herdados, não se adapta ao mundo, desafia-o e renega-o oniricamente, mata o pai e escarnece a mãe, conflita com a tradição familiar de falsa elegância. Também oniricamente transpõe-se em paródia, para aventuras tarzânicas que representam uma evasão. Rompe com todas as limitações morais quando sai do enterro de um amigo com a irmã do morto para viver com ela uma absurda, contudo bela, cena de erotismo.

Lula não se conhece. Não sabe por onde ir, como ir, tão-só sabe que não quer voltar, não quer viver como lhe ensinaram a viver. Mas, se o personagem não sabe, nós sabemos, claros que ficam os motivos da sua revolta, do seu inconformismo. Há uma seqüência, certamente a melhor do filme, na qual Lula e dois companheiros fumam maconha, dividindo o cigarro. Aí se traça toda ética do conflito. Um dos companheiros do herói comenta a situação a que foram arrastados, “dez anos de casados, dez anos de vagabundagem, dez anos de maconha”. A flagrância do contexto social torna-se imediata. Lula não é responsável por seus atos. A responsabilidade vem de fora. Um transviado sem opção.

Chego, nesse ponto, a pensar que o filme de André Luiz Oliveira está certo quando está imperfeito. Não seria tão autêntico se em técnica e linguagem fosse mais equilibrado e coeso. Daria idéia de fabricação de usinagem. E é o caso oposto. Uma fita com a livre espontaneidade da adolescência.

Fonte: SILVEIRA, Walter: Walter da Silveira. O eterno e o efêmero. Org. e notas: José Umberto Dias. Vol. 3. Salvador: Oiti 2006, p.55-57.
Mais informações
Prêmios: V Festival de Cinema Brasileiro de Brasília-DF (1969):
Prêmio Especial do Júri e Prêmio da Opinião Pública;
Preêmio OCIC - Office Catholique Internacional du Cinema;
CNBB, Margarida de Prata: Menção Honrosa.

Cópias disponíveis:
Cinemateca Brasileira: cópia em 35mm

Programadora Brasil: DVD (Programa nº 15)

Links: Crítica de Newton Cannito: http://www.programadorabrasil.org.br/pr
grama/15


Crítica de André Black: http://udigrudi.com.br/andreblak/?p=47

Cinema Marginal Brasileiro: http://www.heco.com.br/marginal/filmes/
ongas/02_01_12.ph


Contato: alocinesom@gmail.com